Aluna deslocada, desafios
Olá a todos,
Hoje vou falar sobre uma dificuldade que senti ao ser aluna deslocada.
Vim para Lisboa para continuar os meus estudos, inicialmente para o curso de Medicina Nuclear, no ano a seguir mudei para Engenharia de Energia e Ambiente, percebi que queria algo mais desafiante e o curso de Medicina Nuclear infelizmente em Portugal apresenta muitas barreiras.
Uma das muitas coisas que tive que tratar foi do local onde ia ficar. Como não conhecia Lisboa nem tinha amigos cá, o início foi complicado. A precessão das distâncias foi a coisa mais complicada de perceber, estava habituada a um perto bem mais perto. Felizmente tive opção de escolha, a nível monetário, e pude ficar perto da faculdade, ia para a faculdade a pé e no primeiro ano em Lisboa nunca tirei o passe, mas sempre que precisava deslocava-me utilizava o metro ou o autocarro, bastante acessíveis. Em Lisboa, apesar de todas as queixas os transportes abundam e com alguma organização é possível usá-los de forma eficiente. Para mim esta foi uma grande mudança, de onde vim, os autocarros são poucos e não há a todas as horas, aos 18 anos somos impelidos pelos país a tirar a carta de condução pois essa é a nossa forma de liberdade e locomoção.
No meu caso, a primeira experiência fora de casa correu muito bem, fiquei a dividir casa, com o senhorio (tinha 27 anos) e outra colega da faculdade que também entrava na faculdade no mesmo ano que eu. Tudo correu lindamente, infelizmente só fiquei 1 ano porque, como referi, mudei de faculdade e precisava ficar mais próxima da faculdade e o senhorio também queria casar e precisava da casa.
Após ter corrido tão bem a primeira experiência a segunda foi um grande desafio, primeiro demorei mais de um mês a encontrar casa, visitei imensos quartos mas deparei-me com várias questões, ou só podia usar o quarto, teria de dividir o quarto ou não podia levar ninguém a casa, restrições de horários um pouco de tudo. Foi neste momento que percebi que nunca mais teria uma experiência tão boa como a primeira. Claro que arranjei quarto, e com condições bastante agradáveis, mas se pensarem em 4 mulheres numa casa podem imaginar os filmes que havia, quase todos os dias. Depois dessa casa fui viver para outra em que tudo correu bem até ter um colega de casa que não percebia porque queria levar pessoas a casa... Agora quando olho para trás percebo que todas as experiências serviram para me tornar mais autónoma e desenrascada, ter que se lidar com tantas situações e com pessoas que não são da nossa família, muitas vezes pessoas que nem simpatizamos nem sempre é fácil.
Neste momento decidi escrever este desabafo porque há quase 3 anos atrás percebi que precisava ter um espaço em que não tivesse um senhorio a entrar pela casa a dentro, sem tocar, ou mesmo o risco de ter que mudar porque o senhorio assim o quer. Arranjei uma casa, neste caso um pequeno T2, com contrato de arredamento, onde, inicialmente, vivi sozinha, agora tenho dividido com outra pessoa. A opção de dividir veio com a dificuldade de pagar uma casa sozinha, desde que estou a dividir tem sido interessante a mudança de papel. Tem sido complicado e entusiasmante perceber os dois lados e o que posso concluir é que com respeito e comunicação tudo se resolver. Infelizmente a pessoa que tenho agora, e que vai sair no fim deste mês, é de outro país e veio para cá com pouco conhecimento da língua, o que posso concluir é que a cultura e a língua dificultam a relação e apesar de vivermos juntas não nos conhecemos. Mas até com estas situações aprendi a lidar.
Como decidir se a pessoa que está à nossa frente será a ideal para viver no mesmo espaço que nós, a resposta não existe, por muito que simpatizem com a pessoa lembrem-se que é sempre uma "entrevista" e que cada um mostra o que quer.
Assim, como senhoria tenho o exemplo da primeira casa em que vivi, o ambiente era descontraído mas havia respeito, dávamos festas mas sempre informando os outros e percebíamos que cada um precisa de ter o seu espaço. Outro ponto de fragilidade são as limpezas, é complicado arranjar um meio termo quando não existe ninguém para limpar o que sujamos, pode-nos custar mas se tivermos em mente como gostamos de ter o espaço quando o vamos utilizar as coisas resolvem-se e quando assim não é uma conversa ou mesmo uma mudança irá resolver as coisas.
Quando sai de casa não procurava apenas um quarto, como muitas pessoas que arrendam quartos pensam, procurava um sítio em que me pudesse sentir bem, que pudesse chamar de "casa em Lisboa".
Não sei se esta situação é semelhante a outros alunos deslocados, mas fica aqui a minha experiências.
Comentários
Enviar um comentário